Na França de séculos passados, considerada berço da moda, do luxo e da alta costura era um verdadeiro insulto pensar no modo de produção em série para a confecção de roupas, com moldes e tamanhos padronizados, pois foi exatamente nesse cenário polêmico que surgiu o prêt-à-porter. Para te ajudar a entender toda essa história, montamos um conteúdo completo sobre o assunto, confira.
Tudo o que você precisa saber: do “ready-to-wear” ao prêt-à-porter
O termo prêt-à-porter significa “pronto para vestir”, assim como a expressão americana “ready-to-wear” (RTW), que ganhou força durante a guerra de 1812. O ritmo acelerado da produção dos uniformes dos militares chamou a atenção dos empresários que passaram a investir nesse modelo de negócio.
A tendência que envolve produção em massa, tamanhos e modelos padronizados só ganhou espaço na Europa por volta de 1925 quando a estilista Sonia Delaunay começou a propor alternativas à alta-costura que eram bem semelhantes ao RTW americano.
No entanto, foi somente no pós-guerra em 1959, que Pierre Cardin com sua visão futurista e grande tino para os negócios, criou a primeira coleção para uma loja de departamentos parisiense. Para espanto de muitos conservadores daquela época, a ideia de entrar em uma loja, escolher um modelo com seu tamanho e levar para casa agradou muita gente.
Foi a partir desse momento que começou uma grande transformação e também a democratização da moda. Os vanguardistas acreditavam que o prêt-à-porter era uma forma de conquistar novos públicos e expandir os negócios, uma forma de se aproximar da classe média. Enquanto os tradicionalistas defendiam que a alta-costura era a única maneira de explorar e conservar a verdadeira moda francesa.
Apesar do pioneirismo de Pierre Cardin, foi Yves St. Laurent que propagou o estilo e consagrou seu nome ao inaugurar a primeira boutique da modalidade. Vale lembrar que mesmo com uma produção em larga escala, o prêt-à-porter preza pela confecção de peças com alta qualidade e, na atualidade, podemos dizer que esse é o tipo de roupa que vemos nas vitrines de grandes marcas. Para entender melhor essa concepção, existe uma classificação específica para isso:
Prêt-à-porter clássico: vendido em grandes lojas.
Prêt-à-porter de estilo: surgiu em 1964 junto com a criação de boutiques, são lojas conceito que oferecem coleções de vários criadores, destinadas ao público jovem. A música alta no ambiente é uma de suas características marcantes.
Prêt-à-porter de luxo: uma alternativa à clientela da alta-costura que busca opções para o dia a dia e preços mais atrativos, sem perder qualidade e design.
A influência na moda contemporânea
A entrada de estilistas renomados no universo do prêt-à-porter trouxe prestígio e valorizou ainda mais o movimento, impulsionando seu crescimento e ampliando a qualidade dos produtos. Foi nesta mesma época, por volta dos anos 80 e 90, que surgiram marcas consagradas até hoje como Giorgio Armani, Versace e Dolce & Gabbana, por exemplo.
Desde então o estilo passou a fazer parte do calendário anual de moda e atualmente existem quatro temporadas dedicadas à apresentação de roupas prontas (primavera-verão, outono-inverno, cruise/resort e pré-outono) contra duas de alta-costura (primavera-verão e outono-inverno).
É no prêt-à-porter que aparecem a maioria das tendências de uma determinada estação. Os desfiles são menos exclusivos e apresentam peças que podem ser usadas no dia a dia, mas que ainda assim exigem certo poder aquisitivo para compra.
Por que a alta costura é tão diferente?
Basicamente, a alta costura difere-se do prêt-à-porter por trabalhar com peças de luxo, feitas à mão, sob encomenda e sob medida para uma clientela privilegiada, de alto poder aquisitivo. Sua finalidade não é somente lucro, mas sim garantir que as melhores roupas já criadas foram e sempre serão feitas na França.
Além disso, não basta dizer que é, existe uma série de exigências a serem cumpridas para então receber o aval da Federação Francesa de Alta Costura e da Moda (Chambre Syndicale de la Haute Couture), o órgão mais tradicional e representativo da categoria. Confira algumas dessas regras para entender o tamanho dessa exclusividade:
- As roupas devem ser feitas nos próprios ateliês e a marca deve ter no mínimo dois deles;
- Produção totalmente manual;
- Equipe mínima de 15 artesãos;
- Apresentar pelo menos 2 coleções ao ano em um desfile com no mínimo 50 peças cada;
- Criar modelos exclusivos e sob encomenda, com mais de uma prova de roupa no corpo do cliente;
- A maison não pode ser alugada e precisa ter no mínimo 5 andares, sendo o térreo uma loja, o primeiro piso um ateliê, um andar em que os desfiles possam ser realizados e o showroom;
- A sede deve estar localizada obrigatoriamente no Triangle D’Or, região que compreende as vias George V, Champs-Elysées e Montaigne, em Paris;
- Ter pelo menos 1 rótulo de perfume no prêt-à-porter.
Para finalizar, os membros da Alta Costura são divididos em três diferentes categorias, sendo os estreantes classificados sempre como convidados, podendo subir de nível de acordo com os critérios da Chambre. Saiba quais são elas:
- Permanente: Chanel, Christian Dior, Jean-Paul Gaultier, Givenchy e Yves St. Laurent;
- Correspondentes: Versace, Armani, Valentino;
- Convidados: Schiaparelli, Alexandre Vauthier, Alexis Mabille, Iris van Herpen, Julien Fournié.
Uma história e tanto, o nome pode até ser meio complicado, mas a verdade é que o prêt-à-porter está mais presente em nossas vidas do que imaginamos, não é mesmo?
Categorias